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Cannabis medicinal para dor crônica: evidências, benefícios e cuidados

Conviver com dor crônica pode ser exaustivo e frustrante. Se você ou alguém próximo sofre com uma dor persistente que não melhora, sabe como isso afeta cada aspecto da vida – do sono ao humor, das relações à capacidade de trabalhar. É natural buscar alternativas para aliviar esse sofrimento. Nesse contexto, muito tem se falado sobre a cannabis medicinal como opção de tratamento.

Mas o que realmente dizem as evidências científicas sobre o uso da cannabis para dor crônica? Este artigo explora, de forma clara e embasada, como a cannabis pode ajudar no manejo da dor crônica, quais são os potenciais benefícios, riscos e a importância do acompanhamento médico nesse processo.

imagem um post dores cronicas dia 12-05-2025

O que é dor crônica?

Dor crônica é aquela que persiste por longos períodos, geralmente definida como dor durando mais de 3 meses ou que continua além do tempo esperado de cura de uma lesão. Diferentemente da dor aguda, que é um sinal de alerta temporário do corpo, a dor crônica frequentemente torna-se ela própria o problema de saúde principal. Milhões de pessoas sofrem com dor crônica no mundo – estimativas sugerem que cerca de 20% dos adultos globalmente convivem com algum tipo de dor crônica (Mills et al., 2019, Br. J. Anaesth.).

Esse tipo de dor pode ser causado por diversas condições, como doenças degenerativas da coluna, artrite, fibromialgia, neuropatias (doenças dos nervos) ou mesmo continuar a incomodar após traumas e cirurgias. Além da dor em si, muitas vezes há impactos na qualidade de vida: dificuldade para dormir, limitações físicas, ansiedade e depressão podem andar junto com a dor crônica.

Diante desse quadro, é compreensível que pacientes com dor crônica busquem novas abordagens quando os tratamentos convencionais (como analgésicos comuns, antiinflamatórios ou mesmo opióides) não trazem alívio suficiente ou causam efeitos colaterais importantes. É aqui que surge o interesse pela cannabis medicinal como possível aliada no controle da dor de longa duração.

Como a cannabis pode ajudar no alívio da dor?

A Cannabis sativa (planta da cannabis) possui diversos compostos ativos chamados canabinoides. Os dois mais conhecidos são o THC (delta-9-tetraidrocanabinol) e o CBD (canabidiol). Esses compostos interagem com o sistema endocanabinoide do nosso corpo – uma rede de receptores presente no cérebro e em vários órgãos, envolvida na regulação da dor, do humor, da imunidade e de outras funções. Simplificando, o THC se liga principalmente aos receptores CB1 (encontrados no sistema nervoso central), o que pode reduzir a percepção de dor e também causar o “alto” (efeito psicoativo) associado à maconha. Já o CBD não é psicoativo e atua de forma mais indireta, ajudando a modular esse sistema de maneiras que podem aliviar a dor e a inflamação sem causar euforia.

Além de agirem diretamente nos receptores de dor, os canabinoides têm efeitos analgésicos e antiinflamatórios bem documentados. Por exemplo, estudos mostram que substâncias da cannabis podem inibir a liberação de neurotransmissores relacionados à sinalização dolorosa e reduzir a inflamação, que é componente de muitas condições de dor crônica. Em outras palavras, a cannabis pode atuar em múltiplas frentes no mecanismo da dor: diminuindo a sensação dolorosa, relaxando músculos tensos, melhorando o sono e até auxiliando no humor – fatores que, em conjunto, podem trazer alívio para quem sofre de dor constante.

Vale lembrar que cada organismo é único. O alívio proporcionado pela cannabis pode variar de pessoa para pessoa e depende também do tipo de dor. Por exemplo, dores neuropáticas (causadas por lesão ou disfunção nos nervos, como ocorre em casos de neuropatia diabética ou esclerose múltipla) parecem responder melhor aos canabinoides do que dores inflamatórias (como artrite) ou dores generalizadas como na fibromialgia. A seguir, veremos o que as pesquisas clínicas encontraram sobre a eficácia da cannabis nesses cenários.

O que dizem as evidências científicas?

Diversos estudos e revisões científicas têm buscado avaliar se a cannabis medicinal realmente funciona para aliviar a dor crônica – e em que medida. De maneira geral, as evidências apontam para benefícios modestos em casos específicos, combinados com a necessidade de cautela devido a possíveis efeitos adversos.

Um dos levantamentos mais abrangentes é uma revisão canadense publicada em 2019 que analisou várias pesquisas clínicas e diretrizes médicas sobre o tema (Banerjee & McCormack, 2019, CADTH). Os autores observaram que pacientes com dor neuropática crônica frequentemente obtiveram alguma redução da dor com o uso de cannabis ou derivados canabinoides, sobretudo quando outros tratamentos já não estavam funcionando. Em contrapartida, para outros tipos de dor crônica – como dores musculoesqueléticas, artrite, dor lombar crônica, fibromialgia ou dor associada a doenças inflamatórias – os resultados dos estudos foram inconsistentes. Nesses casos, algumas pesquisas não encontraram vantagem significativa do uso de cannabis em relação ao placebo, dificultando conclusões definitivas sobre a eficácia.

Vale destacar uma meta-análise de 2018 que reuniu dados de 104 estudos com quase 10 mil pacientes com dor crônica (Stockings et al., 2018, Pain). Essa análise indicou que os canabinoides proporcionaram um alívio de dor ligeiramente superior ao placebo na proporção de pacientes que obtiveram melhora (cerca de 29% dos pacientes usando cannabis tiveram ao menos 30% de redução da dor contra 26% com placebo). Embora essa diferença seja estatisticamente significativa, ela é clinicamente modesta – ou seja, a maioria dos pacientes não experimentou uma melhora dramática apenas com cannabis. Além disso, número necessário para tratar (NNT) foi alto (24, segundo esse estudo), indicando que muitos pacientes precisam ser tratados para que um se beneficie substancialmente.

Por outro lado, os efeitos colaterais não podem ser ignorados. No mesmo estudo de 2018, pacientes usando cannabis tiveram uma incidência maior de eventos adversos (como tontura, sonolência, boca seca, confusão) em comparação ao placebo. Felizmente, a maioria desses efeitos foi considerada leve a moderada (Häuser et al., 2018, Eur. J. Pain), mas ainda assim podem limitar a tolerabilidade do tratamento para algumas pessoas.

De forma geral, as evidências sugerem que a cannabis pode ser útil como terapia adjuvante em certos casos de dor crônica, especialmente dor neuropática, mas não é uma “cura milagrosa” ou solução para todos os tipos de dor. Muitas diretrizes médicas refletem essa cautela. Por exemplo, uma diretriz da European Pain Federation recomendou considerar a cannabis medicinal apenas como terceira linha de tratamento para dor neuropática crônica – isso depois de tentadas as terapias convencionais (Häuser et al., 2018, Eur. J. Pain).

Da mesma forma, um painel de especialistas canadenses sugeriu a cannabis como opção de “último recurso” (quarto ou quinto tratamento) para casos de dor crônica não oncológica, e mesmo assim apenas em condições selecionadas, como dor neuropática refratária (Allan et al., 2018, Can Fam Physician). Essas diretrizes desencorajam o uso rotineiro de cannabis para dores amplas como fibromialgia, dor nas costas crônica ou cefaleias, pois faltam evidências consistentes de benefício nessas situações.

Em resumo, a ciência indica que a cannabis medicinal pode ajudar no alívio da dor crônica para alguns pacientes, mas tipicamente com melhorias moderadas e não isentas de riscos. Por isso, há um consenso crescente de que esse recurso deve ser utilizado com responsabilidade e individualização – avaliando caso a caso se os possíveis benefícios superam os riscos.

Possibilidades de tratamento com cannabis medicinal

Caso médico e paciente decidam, em conjunto, que a cannabis medicinal é uma opção a ser explorada, existem diferentes formas de tratamento disponíveis. É importante frisar que não se trata de “fumar maconha” de forma recreativa, mas sim do uso controlado de derivados padronizados da cannabis, com acompanhamento profissional. Algumas das possibilidades incluem:

Óleos ou tinturas sublinguais: extratos de cannabis (contendo CBD isolado ou combinado com teores controlados de THC) que são aplicados em gotas sob a língua. Essa forma é bastante utilizada e permite dosear gradualmente até encontrar a dose mínima eficaz para o paciente.

Cápsulas ou comprimidos: medicamentos à base de canabinoides, como o dronabinol (THC sintético) ou combinações de THC/CBD em proporções fixas. Esses produtos têm dosagens bem definidas e facilitam o controle médico.

Spray oral: em alguns países, existe um spray bucal (nabiximols, conhecido como Sativex®) com proporções iguais de THC e CBD, aprovado para aliviar espasticidade e dores em esclerose múltipla e outras condições neurológicas.

Vaporização controlada: o uso de aparelhos vaporizadores pode ser orientado em certos casos para inalação de extratos ou da própria flor seca da cannabis medicinal. A vaporização (aquecimento sem combustão) diminui a produção de substâncias tóxicas em comparação ao fumo, mas essa via de administração requer cuidado para evitar uso excessivo.

Cremes ou loções tópicas: embora mais comumente usados para dores localizadas (como artrite em uma articulação), produtos contendo CBD ou THC podem ser aplicados na pele sobre a área dolorida. A absorção sistêmica é baixa, então é mais um complemento do que um tratamento único para dor crônica generalizada.

Cada método tem suas vantagens e considerações. Óleos e cápsulas têm efeito mais lento (podendo demorar 30 minutos a 2 horas para aliviar a dor), porém duram mais tempo no organismo. A inalação (vaporizada) faz efeito rápido em minutos, mas o alívio pode ser de curta duração e é mais difícil padronizar a dose. Já produtos tópicos atuam no local e não resolvem dores mais profundas, mas podem ser úteis em combinação com outras formas sistêmicas.

No Brasil, a legislação permite o uso medicinal da cannabis mediante prescrissão de médico habilitado, seguindo normas da Anvisa para produtos industrializados ou importados com CBD e THC em concentrações determinadas. Isso significa que o paciente não deve tentar se automedicar por conta própria com derivados de cannabis obtidos de forma ilegal ou sem orientação. Além dos aspectos legais, a variabilidade dos produtos artesanais pode comprometer a segurança e eficácia do tratamento.

A importância do acompanhamento médico e considerações finais

Qualquer terapia para dor crônica deve ser conduzida com acompanhamento de profissionais de saúde, e com a cannabis não é diferente. Uma avaliação médica adequada irá considerar seu histórico clínico, outras medicações em uso e se há contraindicações para o uso de cannabis no seu caso. Por exemplo, pessoas com histórico de psicose ou alguns transtornos psiquiátricos, gestantes ou menores de idade precisam de cuidado redobrado – muitas vezes evita-se a prescrição – dado que o THC pode exacerbar problemas psiquiátricos ou afetar o desenvolvimento cerebral em jovens. Problemas cardíacos graves também requerem cautela, já que a cannabis pode alterar a frequência cardíaca e a pressão arterial temporariamente.

Além disso, dosagem e equilíbrio de componentes (THC vs CBD) são detalhes que o médico ajusta conforme a necessidade. Muitas vezes começa-se com doses baixas e com produtos ricos em CBD (que não causam efeitos psicoativos), aumentando gradualmente e introduzindo proporções de THC apenas se necessário para obter alívio da dor. Esse titulamento lento ajuda a minimizar efeitos adversos e encontrar a menor dose efetiva.

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Em resumo, a cannabis medicinal representa uma nova possibilidade no arsenal terapêutico contra a dor crônica, especialmente para casos em que as terapias convencionais falharam ou apresentam muitos efeitos colaterais. Os estudos sugerem benefícios reais, porém modestos, concentrados mais em dores de origem neurológica. Não se trata de substituir tratamentos convencionais, mas sim de acrescentar uma ferramenta potencial – que deve ser usada com bom senso.

Por isso, se você tem dor crônica e considera a cannabis medicinal, procure orientação médica especializada. Juntamente com o profissional de saúde, você poderá avaliar os prós e contras, verificar se esse tratamento é indicado no seu caso e ser monitorado de perto. O acompanhamento regular permite ajustes no plano terapêutico e garante maior segurança no uso da cannabis, potencializando benefícios e reduzindo riscos.

Quer saber mais sobre como a cannabis medicinal pode ajudar no seu caso de dor crônica? Entre em contato com a equipe da Cannaceia para agendar uma consulta. Nossos profissionais de saúde estão prontos para tirar suas dúvidas e oferecer uma orientação personalizada, sempre com segurança e responsabilidade.

 

Aviso: as informações deste artigo têm finalidade informativa e não substituem a avaliação médica. O uso de cannabis medicinal deve ser feito com prescrissão e acompanhamento profissional, em conformidade com a legislação vigente.

Referências

  1. Banerjee S., McCormack S. (2019). Medical cannabis for the treatment of chronic pain: a review of clinical effectiveness and guidelines. CADTH (Canadian Agency for Drugs and Technologies in Health). link

  2. Häuser W., et al. (2018). European Pain Federation (EFIC) position paper on appropriate use of cannabis-based medicines for chronic pain management. Eur J Pain, 22(9): 1547-1564. link

  3. Allan G.M., et al. (2018). Simplified guideline for prescribing medical cannabinoids in primary care. Can Fam Physician, 64(2): 111-120. link

  4. Stockings E., et al. (2018). Cannabis and cannabinoids for the treatment of people with chronic non-cancer pain conditions: a systematic review and meta-analysis. Pain, 159(10): 1932-1954. link

  5. Mills S.E.E., Nicolson K.P., Smith B.H. (2019). Chronic pain: a review of its epidemiology and associated factors in population-based studies. Br J Anaesth, 123(2): e273-e283. link

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